ONU ordena saída de funcionários da capital do Sudão do Sul por causa de conflitos

07-14-2016WaterSudan
 
 
Funcionários que não desempenham funções críticas foram realocados de Juba após onda recente de violência. Decisão é motivada por riscos e desafios operacionais, que incluem o saque do maior armazém de alimentos da cidade, controlado pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA).
 
Na quinta-feira (14), o UNICEF entregou 100 mil litros de água para pessoas internamente deslocadas em Juba. Foto: UNICEF Sudão do Sul
 
 
As Nações Unidas ordenaram na quinta-feira (14) que funcionários de suas agências e da Missão da ONU no Sudão do Sul (UNMISS) que não desempenham funções críticas fossem realocados de Juba, capital do país, para outras regiões devido aos recentes confrontos na cidade. A situação no local apresenta desafios operacionais que incluem o saque do maior armazém da capital, controlado pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA).
 
Segundo o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, a Missão das Nações Unidas recebeu relatos “perturbadores” de que instalações e funcionários da Organização e de parceiros internacionais foram intencionalmente alvejados por integrantes do Exército Popular de Liberação do Sudão durante os últimos conflitos.
 
Informações incluem casos de estupro e assassinato de um sul-sudanês e um estrangeiro a serviço de organizações não governamentais. Profissionais da ONU também foram vítimas de ataques.
 
“Condenamos nos mais fortes termos esses ataques”, afirmou Dujarric. “Pedimos às autoridades nacionais que investiguem essas sérias alegações imediatamente e de forma abrangente, e levem os perpetradores à justiça.”
 
A decisão de retirar parte das equipes não deve afetar a prestação de assistência, pois a ONU e a UNMISS “vão continuar realizando operações críticas para dar apoio” ao povo sul-sudanês, segundo um informe da Missão.
 
Armazém do PMA é saqueado
 
Antes da mais recente onda de violência, o depósito do PMA — localizado na fronteira oeste de Juba — abrigava uma quantidade de suprimentos suficiente para alimentar 220 mil pessoas por um mês.
 
O armazém funcionava como o principal centro logístico do organismo internacional no país, fornecendo alimentos para regiões e cidades em diferentes partes do Sudão do Sul. A extensão dos danos ao estoque causados pelo saque ainda não pôde ser calculada porque funcionários do Programa Mundial não conseguem chegar ao depósito.
 
“O PMA condena fortemente o roubo de comida destinada aos mais pobres e vulneráveis do Sudão do Sul”, destacou o vice-diretor regional da agência, Vernon Archibald. A perda das provisões poderá afetar a capacidade do Programa de responder aos mais de 40 mil indivíduos deslocados pelos recentes confrontos.
 
A chefe nacional do PMA, Joyce Luma, informou que a agência da ONU tem conseguido levar alimentos para as pessoas abrigadas em bases da Missão das Nações Unidas — responsável atualmente pela proteção de cerca de 33 mil indivíduos internamente deslocados que residem, em sua maioria, em abrigos para civis ao lado da Casa da ONU em Juba.
 
O próprio escritório do Programa Mundial abriu suas portas a civis e já conta com cerca de 3 mil sul-sudaneses em suas instalações.
 
“Uma mãe fugiu para o nosso complexo com seu bebê poucas horas após dar a luz”, contou Luma. A dirigente lembrou que, em saques anteriores, o PMA conseguiu negociar a devolução da comida roubada com os ladrões — que teriam reconhecido a importância da assistência humanitária.
 
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Agências da ONU e parceiros levam assistência
 
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) informou na quarta-feira (13) que está trabalhando com parceiros para prestar assistência a cerca de 50 mil pessoas afetadas pelos últimos confrontos em Juba.
 
“As pessoas mais atingidas pelos conflitos estão lutando para lidar com condições terríveis. Elas estão desesperadas por água, alimentos e necessitam de assistência médica”, disse o representante do UNICEF no Sudão do Sul, Mahimbo Mdoe.
 
Kits com utensílios para cuidados de saúde primários, bem como itens de lazer para as crianças foram distribuído na quinta-feira (14).
 
Já na terça-feira (13), assim que os acessos à ajuda humanitária foram liberados, quatro caminhões de suprimentos — carregados com itens para tratar desnutrição e artigos de saneamento — saíram dos armazéns da agência da ONU para um local onde as Nações Unidas acolhe deslocados em Juba. Barras de alimentos hipercalóricas também foram distribuídas em duas igrejas onde as famílias estão reunidas.
 
Equipes do UNICEF e de seus parceiros estão trabalhando também para avaliar a extensão das necessidades humanitárias e começaram a procurar familiares de crianças que foram separadas de seus pais.
 
“Estamos dando assistência e essa resposta continuará crescendo. No entanto, é vital que sejamos capazes de chegar a todos os necessitados e, para isso, temos de ter acesso humanitário sem restrições”, ressaltou Mdoe.
 
O Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) informou que, desde o cessar-fogo acordado na segunda-feira (12), famílias começaram a retornar para suas casas em Juba, mas milhares permanecem deslocadas.
 
O organismo da ONU disse que parceiros humanitários estão monitorando de perto a situação de outras regiões do Sudão do Sul — como Yei, Wau e Leer — que podem enfrentar novas ondas de violência.
 
 

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