Joy James: “Mesmo quando somos assassinados, temos que ser dóceis”

por Laura Castanho — publicado 18/09/2018 
Uma das acadêmicas de maior renome da Williams College, James critica a falsa sensação de progresso racial na gestão do ex-presidente dos EUA
Alice Vergueiro/Ibccrim
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‘Os negros pensaram que pertenciam ao próprio país, sem entender que isso tinha data de validade’, diz James sobre a era Obama

“Obrigado pelo livro, mas ele não tem nada a ver com a minha vida.” Foi a carta curta e grossa de Jalil Mutanqim, ativista dos Panteras Negras preso desde 1971, que abriu os olhos de Joy James para expandir o ativismo para fora dos muros da academia.

Aos 59 anos, ela é uma das acadêmicas de maior renome da Williams College, uma pequena universidade de elite na costa leste dos Estados Unidos. Especializada em filosofia política e estudos afro-americanos, ela foi apresentada à mobilização política por ninguém menos que Angela Davis.

James trabalha com presos políticos há 20 anos e milita no movimento abolicionista contemporâneo, que visa acabar com as prisões — a décima terceira emenda da constituição americana, que aboliu a escravidão, não vale para pessoas privadas de liberdade.

Em entrevista a CartaCapital, ela criticou as políticas de segurança pública na gestão Obama e o feminismo negro. Também se disse entusiasmada por novas ativistas, como Alexandria Ocasio-Cortez – estrela ascendente da ala socialista do Partido Democrata, atualmente concorrendo ao Senado – e Erica Garner, a filha de um homem morto pela polícia que se converteu em ativista e morreu no fim do ano passado, aos 27 anos.

Confira abaixo a íntegra da entrevista.

CC: Qual  diagnóstico a sra. faz da democracia, nos EUA e no mundo?

Joy James: Ela está muito frágil. Passamos muito tempo reparando as pessoas que foram traumatizadas pela polícia, ou pelas prisões, ou as enterrando, e isso torna muito difícil ser proativo com a democracia e a organização política. Temos muita gente desgastada.

Pensando no caso da Marielle Franco: você conecta a política doméstica com a internacional, e é aí que acontece a repressão. Foi isso que aconteceu com Malcom X, quando ele viajou a Meca e passou a ser financiado pelo Egito, segundo algumas fontes. Quando ele voltou aos EUA, foi assassinado pouco depois. Foi o que houve com Martin Luther King, quando ele juntou o ativismo pelos direitos civis com a crítica à Guerra do Vietnã e começou a denunciar o capitalismo e o imperialismo — e em 1968 ele também foi morto. O fio é uma coalizão organizada e internacional, e que também apoiamos a democracia quando apoiamos uns aos outros.

CC: Como vê o debate sobre as prisões na atualidade?

JJ: Senti que a resistência crítica e o abolicionismo mainstream estavam minimizando os presos políticos. Uma vez que você considera a ideia de presos políticos, tem que lidar com a autonomia deles. Geralmente falamos do encarceramento em massa e de suas vítimas. Mas os presos políticos não são vítimas, são ativistas, intelectuais. Alguns usam violência, outros não.

A honra é muito importante e acho que é dela que os abolicionistas sentem falta. A honra e a dignidade é o que os torna (presos) humanos. Você tem que respeitá-los.

A democracia ainda não se consolidou no que diz respeito aos negros. É por isso que somos policiados, mortos e humilhados em maior escala. Mas é essa asserção de dignidade – mesmo quando você não é pobre – que leva à rebelião. E penso que é essa asserção que costuma se perder ou ser mal compreendida quando resolvemos a política no pragmatismo.

CC: A sra. leciona um curso sobre o racismo institucional na era Obama. Em retrospecto, como avalia a política racial do ex-presidente?

JJ: O governo norte-americano, na gestão Obama, diminuiu a importância da violência dos supremacistas brancos. Sob Obama, quase todos os chefes do aparato de policiamento eram negros. Obama era o comandante-chefe dos militares, Eric Holder era o advogado-geral, e depois dele foi Lorretta Lynch. O responsável pela segurança interna era Jay Johnson. Então pensei: como é que todo mundo no controle do aparato policial nos Estados Unidos é negro e mesmo assim você não consegue controlar a violência contra os negros por parte da polícia?

Então o Obama disse algo muito pungente — sempre vou lembrar a frase, porque o verbo que usou é incomum. Ele disse, ‘Não posso federalizar a polícia’. Não entendi o significado de primeira, mas então percebi: ah, você acabou de dizer que não consegue controlar a polícia dos EUA. Então por que estamos nos dirigindo a você nas petições? Ele basicamente quis dizer, ‘Perdão, gente, não consigo controlá-los’.

CC: Era apenas simbólico?

JJ: É arrogância, é orgulho, é performance. Trump realmente odeia os negros e age de modo indecente, então claro que há um contraste nítido entre ambos. Mas o que os liberais estavam dispostos a arriscar, sob a gestão de um presidente negro liberal, era mínimo.

No final, as pessoas pensaram, ‘O que eu tirei disso tudo?’. As elites negras tiraram muita coisa, muito capital cultural. Elas iam às festas na Casa Branca. Era um momento em que os negros pensaram que pertenciam ao próprio país, sem entender que isso tinha data de validade. E essa sensação de pertencimento tinha mais a ver com cultura e representação do que com controle sobre a violência e a economia.

Paramos de focar na violência racista [na gestão Obama]. Focamos no fato de que ele cantou ‘Amazing Grace’ e chorou [após o massacre em uma igreja de Charleston]. Esse momento de vulnerabilidade e perdão negros estava estampado na cara do presidente, como se estivéssemos sempre ofendendo.

Mesmo quando somos assassinados, temos que ser dóceis. Não podemos manifestar raiva em público. Esse era o modelo a ser seguido, o modelo oficial do abolicionismo liberal convencional — ‘não irrite os brancos’. Mas eles já estão irritados.

Havia toda essa narrativa triunfal de que tínhamos superado as piores partes e estávamos seguindo adiante. Na verdade, ainda temos que passar pelas piores partes, porque os negros e os radicais são sempre orientados a calar a boca, trabalhar com coalizões e parar de aprontar.

CC: Outro curso que a sra. leciona é focado nas mulheres na política nacional. O que pensa das candidatas nas eleições no Legislativo, em novembro, como Alexandria Ocasio-Cortez?

JJ: Fico animada com ela. Adoro como a juventude está tomando seu espaço. Sei que o Partido Democrata está tentando conter o que vê como ‘a facção do Bernie [Sanders]’, mas ela não é a menina do Bernie. Ela é autônoma e é um fenômeno único. Muito da política é comprometimento ideológico, e também alguma traição. Sinto que em algum momento ela vai se comprometer, mas não acho que trairá ninguém. Era assim que eu também via a Erica Garner.

Fiquei obcecada pela Erica Garner. Ela não fazia a política dos liberais. Se fizesse, teria aparecido nos jornais quando morreu, mas não foi assim. Ela criou sozinha uma das propagandas de campanha mais poderosas nas últimas décadas. Acho que sou uma versão mais atenuada dela, dentro dos espaços liberais.

CC: E os movimentos recentes pela justiça racial, como o Black Lives Matter?

JJ: É complicado. Tenho a Erica Garner como modelo, mas não as outras organizações, como o Black Lives Matter (BLM) e o Say Her Name. O BLM recebeu 100 milhões de dólares da Fundação Ford. Tudo bem. Mas eles também negaram dinheiro ao Martin Luther King quando ele passou a criticar o imperialismo e o capitalismo, então os pagantes têm as suas vontades.

Eles [BLM] estão fazendo coisas importantes, mas não são novidades — ao contrário da Alexandria Ocasio-Cortez e da Erica Garner. Não tem que haver só uma disrupção da norma, mas uma proposta de novos caminhos.

Nossos cérebros estão tão engessados na mesma definição de democracia e trabalho duro, e precisamos abrir espaço para novas formas de pensar. É assim que vejo esses jovens que fogem da política tradicional — não é para destruir nada, mas para plantar algo novo. Não dá para respirarmos sem esse novo fervor político e intelectual.

CC: A sra. também faz uma crítica do feminismo negro. Poderia explicá-la?

JJ: As pessoas se contentam em achar que o feminismo negro é necessariamente mais progressista que o feminismo branco, porque o tornaram monolítico. Meu argumento é que já resolvemos isso nos anos oitenta, e que agora precisamos olhar para a ideologia. Então mesmo com a interseccionalidade, eu pergunto, ‘Ok, mas cadê a ideologia?’. É ela que vai dizer se temos uma marxista ou uma capitalista, uma radical ou uma neoliberal.

É essa ausência de interrogação do feminismo negro, de imbuir nele uma autocrítica, que permite que pensemos que ele é sempre progressista e transformador, mesmo quando não é. Teve quem boicotou meus textos, por eu fazer essa crítica.

Os feminismos negros se consolidaram como uma vanguarda, mas passam muito tempo fazendo uma análise da vitimização. Vitimização não é sinônimo de liderança. Só porque você foi vitimizado, não quer dizer que deva liderar [um movimento político]. A sua subalternidade na ordem social não reflete, necessariamente, a sua coragem de mudá-la.

https://www.cartacapital.com.br/diversidade/governo-obama-subestimou-a-violencia-racista-dos-estados-unidos

A palestra de Barack Obama no centenário de Nelson Mandela

 

O ex-presidente dos EUA, Barack Obama, realiza a 16ª palestra anual de Nelson Mandela, marcando o centenário do nascimento do líder anti-apartheid, em Joanesburgo, África do Sul, em 17 de julho de 2018. (Siphiwe Sibeko / Reuters)
O ex-presidente dos EUA, Barack Obama, realiza a 16ª palestra anual de Nelson Mandela, marcando o centenário do nascimento do líder anti-apartheid, em Joanesburgo, África do Sul, em 17 de julho de 2018. (Siphiwe Sibeko / Reuters)

Quando minha equipe me disse que eu deveria fazer uma palestra, pensei nos antigos professores abafados de gravata-borboleta e tweed, e me perguntei se esse era mais um sinal do estágio da vida em que estou entrando, junto com o cinza cabelo e visão levemente falhando. Pensei no fato de que minhas filhas acham que qualquer coisa que eu diga é uma palestra.

Pensei na imprensa americana e em como eles frequentemente ficavam frustrados com as minhas longas respostas em coletivas de imprensa, quando minhas respostas não correspondiam a sons de dois minutos. Mas dados os tempos estranhos e incertos em que estamos – e eles são estranhos, e eles são incertos – com os ciclos de notícias de cada dia trazendo mais manchetes e manchetes perturbadoras, eu pensei que talvez fosse útil dar um passo atrás por um momento e tente obter alguma perspectiva.

Então, eu espero que você me permita, apesar do frio leve, enquanto eu gasto muito desta palestra refletindo sobre onde estivemos, e como chegamos ao presente momento, na esperança de que isso nos oferecerá um roteiro para onde precisamos ir em seguida.

Cem anos atrás, Madiba nasceu na aldeia de Mvezo – em sua autobiografia ele descreve uma infância feliz; ele está cuidando do gado, ele está brincando com os outros garotos, eventualmente frequenta uma escola onde seu professor lhe deu o nome em inglês Nelson. E como muitos de vocês sabem, ele disse: “Por que ela me deu esse nome em particular, eu não tenho ideia”.

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Não havia razão para acreditar que um jovem negro neste momento, neste lugar, pudesse de alguma forma alterar a história. Afinal de contas, a África do Sul estava então com menos de uma década de total controle britânico. As leis já estavam sendo codificadas para implementar a segregação e subjugação racial, a rede de leis que seria conhecida como apartheid. A maior parte da África, incluindo a terra natal de meu pai, estava sob o domínio colonial.

As potências européias dominantes, tendo terminado uma terrível guerra mundial poucos meses após o nascimento de Madiba, viam este continente e seu povo principalmente como espoliação em uma disputa por território e abundantes recursos naturais e mão-de-obra barata. E a inferioridade da raça negra, uma indiferença em relação à cultura negra e aos interesses e aspirações, era um dado adquirido.

E tal visão do mundo – que certas raças, certas nações, certos grupos eram inerentemente superiores, e que a violência e a coerção eram a base primária da governança, que os fortes necessariamente exploram os fracos, que a riqueza é determinada principalmente pela conquista – que a visão do mundo dificilmente se limitava às relações entre a Europa e a África, ou as relações entre brancos e negros. Os brancos estavam felizes em explorar outros brancos quando podiam. E, a propósito, os negros muitas vezes estavam dispostos a explorar outros negros.

E em todo o mundo, a maioria das pessoas vivia em níveis de subsistência, sem falar nas políticas ou forças econômicas que determinavam suas vidas. Muitas vezes eles estavam sujeitos aos caprichos e crueldades de líderes distantes. A pessoa comum não via nenhuma possibilidade de avançar das circunstâncias de seu nascimento. As mulheres eram quase uniformemente subordinadas aos homens. Privilégio e status estavam rigidamente vinculados por casta e cor e etnia e religião. E mesmo em meu próprio país, mesmo em democracias como os Estados Unidos, fundado em uma declaração de que todos os homens são criados iguais, a segregação racial e a discriminação sistêmica eram a lei em quase metade do país e a norma em todo o resto do país.

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Esse foi o mundo apenas 100 anos atrás. Há pessoas vivas hoje que estavam vivas naquele mundo. É difícil, então, exagerar as notáveis ​​transformações que ocorreram desde aquela época. Uma segunda guerra mundial, ainda mais terrível do que a primeira, juntamente com uma cascata de movimentos de libertação da África para a Ásia, América Latina, Oriente Médio, finalmente acabaria com o domínio colonial. Mais e mais povos, tendo testemunhado os horrores do totalitarismo, os repetidos massacres em massa do século XX, começaram a abraçar uma nova visão para a humanidade, uma nova ideia, baseada não apenas no princípio da autodeterminação nacional, mas também os princípios da democracia e do Estado de direito e dos direitos civis e a dignidade inerente de cada indivíduo.

Nos países com economias baseadas no mercado, de repente, movimentos sindicais se desenvolveram; e saúde e segurança e regulamentações comerciais foram instituídas; e o acesso à educação pública foi ampliado; e os sistemas de bem-estar social surgiram, todos com o objetivo de restringir os excessos do capitalismo e aumentar sua capacidade de oferecer oportunidades não apenas para alguns, mas para todas as pessoas. E o resultado foi um crescimento econômico inigualável e um crescimento da classe média. E no meu próprio país, a força moral do movimento dos direitos civis não apenas derrubou as leis de Jim Crow, mas abriu as comportas para mulheres e grupos historicamente marginalizados para se reimaginarem, encontrar suas próprias vozes, fazer suas próprias reivindicações de cidadania plena. .

Foi a serviço dessa longa caminhada em direção à liberdade e à justiça e oportunidades iguais que Nelson Mandela dedicou sua vida. No início, sua luta era particular para este lugar, para sua terra natal – uma luta para acabar com o apartheid, uma luta para assegurar a duradoura igualdade política, social e econômica para seus cidadãos não brancos marginalizados. Mas através do seu sacrifício e liderança inabalável e, talvez acima de tudo, através do seu exemplo moral, Mandela e o movimento que ele liderou viriam a significar algo maior. Ele passou a incorporar as aspirações universais de pessoas despossuídas em todo o mundo, suas esperanças de uma vida melhor, a possibilidade de uma transformação moral na condução dos assuntos humanos.

A luz de Madiba brilhava tão intensamente, mesmo naquela estreita cela de Robben Island, que no final dos anos 70 ele podia inspirar um jovem universitário do outro lado do mundo a reexaminar suas próprias prioridades, poderia me fazer pensar no pequeno papel que poderia desempenhar em dobrar o arco do mundo para a justiça. E quando, mais tarde, como estudante de direito, presenciei Madiba sair da prisão, apenas alguns meses, você se lembra, depois da queda do Muro de Berlim, senti a mesma onda de esperança que inundou corações em todo o mundo. Você se lembra desse sentimento? Parecia que as forças do progresso estavam em marcha, que elas eram inexoráveis. Cada passo que ele deu,

E então, como Madiba guiou esta nação através da negociação meticulosamente, reconciliação, suas primeiras eleições justas e livres; Como todos nós testemunhamos a graça e a generosidade com que ele abraçou os antigos inimigos, a sabedoria para ele se afastar do poder uma vez que ele sentiu que seu trabalho estava completo, nós entendemos que entendemos que não eram apenas os subjugados, os oprimidos que eram sendo libertado dos grilhões do passado. O subjugador estava recebendo um presente, tendo a oportunidade de ver de uma nova maneira, tendo a chance de participar do trabalho de construir um mundo melhor.

E durante as últimas décadas do século XX, a visão progressista e democrática que Nelson Mandela representou de muitas maneiras definiu os termos do debate político internacional. Isso não significa que a visão sempre foi vitoriosa, mas estabeleceu os termos, os parâmetros; guiou como pensamos sobre o significado do progresso e continuou a impulsionar o mundo para frente. Sim, ainda havia tragédias – sangrentas guerras civis dos Bálcãs ao Congo. Apesar do fato de que o conflito étnico e sectário ainda incendiou com regularidade devastadora, apesar de tudo isso como consequência da continuação da détente nuclear, e de um Japão pacífico e próspero, e uma Europa unificada ancorada na OTAN, e a entrada da China na sistema mundial de comércio – tudo isso reduziu enormemente a perspectiva de guerra entre as grandes potências mundiais.

A marcha estava ligada. Um respeito pelos direitos humanos e pelo estado de direito, enumerados em uma declaração das Nações Unidas, tornou-se a norma orientadora para a maioria das nações, mesmo em lugares onde a realidade ficou muito aquém do ideal. Mesmo quando esses direitos humanos foram violados, aqueles que violaram os direitos humanos estavam na defensiva.

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E com essas mudanças geopolíticas vieram mudanças econômicas devastadoras. A introdução de princípios baseados no mercado, nos quais economias anteriormente fechadas, juntamente com as forças da integração global impulsionadas por novas tecnologias, de repente liberaram talentos empresariais àqueles que já haviam sido relegados à periferia da economia mundial, que não haviam contado. De repente, eles contaram. Eles tinham algum poder; eles tinham as possibilidades de fazer negócios. E então vieram avanços científicos e novas infraestruturas e a redução de conflitos armados.

E, de repente, um bilhão de pessoas foram retiradas da pobreza, e uma vez as nações famintas conseguiram se alimentar, e as taxas de mortalidade infantil despencaram. E enquanto isso, a disseminação da internet possibilitou que as pessoas se conectassem através dos oceanos, e culturas e continentes instantaneamente foram reunidos e, potencialmente, todo o conhecimento do mundo poderia estar nas mãos de uma criança pequena, mesmo na aldeia mais remota.

Foi o que aconteceu no decorrer de algumas décadas. E todo esse progresso é real. Tem sido amplo e profundo, e tudo aconteceu em que – pelos padrões da história humana – nada mais era do que um piscar de olhos. E agora toda uma geração cresceu em um mundo que, pela maioria das medidas, se tornou cada vez mais livre e mais saudável e mais rico e menos violento e mais tolerante durante suas vidas.

Isso deveria nos deixar esperançosos. Mas se não podemos negar os avanços reais que o nosso mundo fez desde o momento em que Madiba deu os primeiros passos no confinamento, também temos que reconhecer todas as maneiras pelas quais a ordem internacional ficou aquém de sua promessa. De fato, é em parte por causa dos fracassos dos governos e das poderosas elites em responder diretamente às deficiências e contradições dessa ordem internacional que vemos agora grande parte do mundo ameaçando retornar a um modo mais antigo, mais perigoso, mais brutal. de fazer negócios.

Portanto, temos de começar admitindo que quaisquer leis que possam ter existido nos livros, quaisquer que sejam os pronunciamentos maravilhosos existentes nas constituições, quaisquer palavras bonitas que tenham sido pronunciadas durante estas últimas décadas em conferências internacionais ou nos halls das Nações Unidas, as estruturas anteriores de privilégio e poder e injustiça e exploração nunca desapareceram completamente. Eles nunca foram totalmente desalojados.

Diferenças de castas ainda afetam as chances de vida das pessoas no subcontinente indiano. Diferenças étnicas e religiosas ainda determinam quem recebe oportunidades da Europa Central para o Golfo. É um fato claro que a discriminação racial ainda existe nos Estados Unidos e na África do Sul. E também é um fato que as desvantagens acumuladas de anos de opressão institucionalizada criaram enormes disparidades em renda, riqueza e educação, saúde, segurança pessoal e acesso ao crédito. Mulheres e meninas em todo o mundo continuam bloqueadas de posições de poder e autoridade. Eles continuam sendo impedidos de obter uma educação básica. Eles são desproporcionalmente vitimizados pela violência e abuso. Eles ainda recebem menos que os homens por fazer o mesmo trabalho. Isso ainda está acontecendo.

Oportunidade econômica, por toda a magnificência da economia global, todos os arranha-céus brilhantes que transformaram a paisagem ao redor do mundo, bairros inteiros, cidades inteiras, regiões inteiras, nações inteiras foram contornadas. Em outras palavras, para muitas pessoas, quanto mais as coisas mudam, mais as coisas permanecem as mesmas.

E enquanto a globalização e a tecnologia abriram novas oportunidades, têm impulsionado um crescimento econômico notável em partes do mundo anteriormente em dificuldades, a globalização também derrubou os setores agrícola e manufatureiro em muitos países. Também reduziu bastante a demanda por certos trabalhadores, ajudou a enfraquecer os sindicatos e o poder de barganha do trabalho. Tornou mais fácil para o capital evitar as leis tributárias e os regulamentos dos estados-nação – pode apenas movimentar bilhões, trilhões de dólares com um toque de chave de computador.

E o resultado de todas essas tendências foi uma explosão da desigualdade econômica. Significa que algumas dezenas de indivíduos controlam a mesma quantidade de riqueza que a metade mais pobre da humanidade. Isso não é um exagero, é uma estatística. Pense sobre isso. Em muitos países de rendimento médio e em desenvolvimento, a nova riqueza acaba de acompanhar o antigo mau negócio que as pessoas obtiveram porque reforçou ou até agravou os padrões existentes de desigualdade, a única diferença é que criou oportunidades ainda maiores de corrupção numa escala épica. E por uma vez solidamente famílias de classe média em economias avançadas como os Estados Unidos, essas tendências significam maior insegurança econômica, especialmente para aqueles que não têm habilidades especializadas, pessoas que estavam na indústria, pessoas trabalhando em fábricas, pessoas trabalhando em fazendas. .

Em todos os países, a influência econômica desproporcional dos que ocupam o topo tem proporcionado a esses indivíduos uma influência desproporcional sobre a vida política de seus países e sobre sua mídia; em que políticas são perseguidas e cujos interesses acabam sendo ignorados. Agora, deve-se notar que esta nova elite internacional, a classe profissional que os sustenta, difere em aspectos importantes das aristocracias dominantes de antigamente. Inclui muitos que são feitos por si mesmos. Inclui campeões de meritocracia. E embora ainda predominantemente brancos e masculinos, eles refletem uma diversidade de nacionalidades e etnias que não existiriam há cem anos. Uma porcentagem decente considera-se liberal em sua política, moderna e cosmopolita em sua perspectiva.

Desabitada pelo paroquialismo, ou nacionalismo, ou preconceito racial manifesto ou forte sentimento religioso, eles estão igualmente à vontade em Nova York, Londres, Xangai, Nairóbi, Buenos Aires ou Joanesburgo. Muitos são sinceros e eficazes em sua filantropia. Alguns deles contam Nelson Mandela entre seus heróis. Alguns até apoiaram Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos, e em virtude do meu status como ex-chefe de Estado, alguns deles me consideram um membro honorário do clube. E eu fui convidada para essas coisas extravagantes, sabe? Eles vão me expulsar.

Mas o que é verdade, no entanto, é que em seus negócios, muitos titãs da indústria e das finanças estão cada vez mais separados de qualquer local ou estado-nação, e vivem vidas cada vez mais isoladas das lutas das pessoas comuns em seus países de origem.

E suas decisões – suas decisões de fechar uma fábrica ou tentar minimizar sua conta fiscal transferindo lucros para um paraíso fiscal com a ajuda de contadores ou advogados caros, ou sua decisão de tirar proveito de imigrantes de baixo custo. trabalho, ou a sua decisão de pagar um suborno – são muitas vezes feitas sem malícia; é apenas uma resposta racional, eles consideram, às demandas de seus balanços e seus acionistas e pressões competitivas.

Mas, com demasiada frequência, essas decisões também são tomadas sem referência a noções de solidariedade humana – ou um entendimento no nível do solo das conseqüências que serão sentidas por determinadas pessoas em determinadas comunidades pelas decisões tomadas. E de suas salas de diretoria ou retiros, tomadores de decisão globais não têm a chance de ver, às vezes, a dor nos rostos dos trabalhadores demitidos.

Seus filhos não sofrem quando os cortes na educação pública e nos cuidados de saúde resultam de uma base fiscal reduzida devido à evasão fiscal. Eles não podem ouvir o ressentimento de um comerciante mais velho quando ele reclama que um recém-chegado não fala sua língua em um local de trabalho onde ele trabalhou uma vez. Eles estão menos sujeitos ao desconforto e ao deslocamento que alguns de seus conterrâneos podem sentir como a globalização embaralha não apenas os arranjos econômicos existentes, mas os costumes sociais e religiosos tradicionais.

É por isso que, no final do século 20, enquanto alguns comentaristas ocidentais estavam declarando o fim da história e o inevitável triunfo da democracia liberal e as virtudes da cadeia global de suprimentos, tantos sinais errados de uma reação adversa – uma reação que chegou em muitas formas. Anunciou-se de forma mais violenta com o 11/9 e o surgimento de redes terroristas transnacionais, alimentadas por uma ideologia que perverteu uma das grandes religiões do mundo e afirmou uma luta não apenas entre o Islã e o Ocidente, mas entre o Islã e a modernidade e uma doença. aconselhou a invasão do Iraque pelos EUA não ajudou, acelerando um conflito sectário. A Rússia, já humilhada pela sua reduzida influência desde o colapso da União Soviética, sentindo-se ameaçada pelos movimentos democráticos ao longo de suas fronteiras,

A China, encorajada por seu sucesso econômico, começou a protestar contra as críticas ao seu histórico de direitos humanos; enquadrava a promoção de valores universais como nada mais que interferência estrangeira, imperialismo sob um novo nome.

Dentro dos Estados Unidos, dentro da União Européia, os desafios à globalização vieram primeiro da esquerda, mas vieram mais fortemente da direita, quando começaram a ver movimentos populistas – que, aliás, são cinicamente financiados por bilionários de direita. na redução das restrições do governo em seus interesses comerciais – esses movimentos aproveitaram o mal-estar que foi sentido por muitas pessoas que viviam fora dos núcleos urbanos; temia que a segurança econômica estivesse se esvaindo, que seu status social e privilégios estivessem se deteriorando, que suas identidades culturais estavam sendo ameaçadas por estranhos, alguém que não se parecia com eles ou soava como eles ou orava como eles faziam.

E talvez mais do que qualquer outra coisa, o impacto devastador da crise financeira de 2008, em que o comportamento imprudente das elites financeiras resultou em anos de dificuldades para pessoas comuns em todo o mundo, fez todas as garantias anteriores de especialistas parecerem vazias – todas essas garantias que de alguma forma os reguladores financeiros sabiam o que estavam fazendo, que alguém estava cuidando da loja, que a integração econômica global era um bem não adulterado.

Por causa das ações tomadas pelos governos durante e após a crise, incluindo, devo acrescentar, por medidas agressivas da minha administração, a economia global voltou agora a um crescimento saudável. Mas a credibilidade do sistema internacional, a fé em especialistas em lugares como Washington ou Bruxelas, tudo isso levou um golpe.

E uma política de medo e ressentimento e retração começaram a aparecer, e esse tipo de política está agora em movimento. Está em movimento a um ritmo que teria parecido inimaginável há alguns anos. Eu não estou sendo alarmista, estou simplesmente declarando os fatos. Olhar em volta. As políticas do homem forte estão ascendendo repentinamente, por meio das quais as eleições e alguma pretensão democrática são mantidas – a forma dela – mas os que estão no poder procuram minar todas as instituições ou normas que dão significado à democracia. No Ocidente, você tem partidos de extrema-direita que muitas vezes se baseiam não apenas em plataformas de protecionismo e fronteiras fechadas, mas também em nacionalismo racial pouco oculto.

Muitos países em desenvolvimento agora estão considerando o modelo de controle autoritário da China combinado com o capitalismo mercantilista como preferível à confusão da democracia. Quem precisa de liberdade de expressão enquanto a economia estiver indo bem? A imprensa livre está sob ataque. A censura e o controle estatal da mídia estão em ascensão. A mídia social – antes vista como um mecanismo para promover o conhecimento, a compreensão e a solidariedade – provou ser igualmente eficaz na promoção do ódio e da paranoia e das teorias de propaganda e conspiração.

Assim, no aniversário de 100 anos de Madiba, estamos agora em uma encruzilhada – um momento no tempo em que duas visões muito diferentes do futuro da humanidade competem pelos corações e mentes dos cidadãos ao redor do mundo. Duas histórias diferentes, duas narrativas diferentes sobre quem somos e quem devemos ser. Como devemos responder?

Deveríamos ver aquela onda de esperança que sentimos com a libertação de Madiba da prisão, do Muro de Berlim descendo – devemos ver essa esperança que tínhamos ingênuo e mal orientado? Deveríamos entender os últimos 25 anos de integração global como nada mais do que um desvio do ciclo inevitável da história anterior – onde a causa pode acertar, e a política é uma competição hostil entre tribos e raças e religiões, e as nações competem em uma soma zero? jogo, constantemente à beira do conflito até que a guerra completa irrompe? É isso que pensamos?

Deixe-me dizer o que eu acredito. Eu acredito na visão de Nelson Mandela. Eu acredito em uma visão compartilhada por Gandhi e King e Abraham Lincoln. Acredito em uma visão de igualdade, justiça, liberdade e democracia multirracial, construída com base na premissa de que todas as pessoas são criadas iguais e dotadas pelo nosso criador de certos direitos inalienáveis. E acredito que um mundo governado por tais princípios é possível e que pode alcançar mais paz e mais cooperação na busca de um bem comum. Isso é o que eu acredito.

E acredito que não temos escolha a não ser seguir em frente; que aqueles de nós que acreditam na democracia e nos direitos civis e uma humanidade comum têm uma história melhor para contar. E eu acredito que isso não se baseia apenas no sentimento, acredito que seja baseado em evidências concretas.

O fato de que as sociedades mais prósperas e bem-sucedidas do mundo, aquelas com os mais altos padrões de vida e os mais altos níveis de satisfação entre seus povos, são aquelas que mais se aproximam do ideal progressista liberal de que falamos e alimentaram o mundo. talentos e contribuições de todos os seus cidadãos.

O fato de que governos autoritários têm sido mostrados repetidamente para criar corrupção, porque eles não são responsáveis; reprimir seu povo; perder o contato eventualmente com a realidade; envolver-se em mentiras maiores e maiores que acabam por resultar em estagnação econômica e política e cultural e científica. Olhe para a história. Olhe para os fatos.

O fato de que países que se baseiam em nacionalismo e xenofobia raivosos e doutrinas de superioridade tribal, racial ou religiosa são seus principais princípios organizadores, o que mantém as pessoas unidas – eventualmente esses países se vêem consumidos pela guerra civil ou guerra externa. Confira os livros de história.

O fato de que a tecnologia não pode ser colocada de volta em uma garrafa, então estamos presos ao fato de que agora vivemos juntos e as populações vão se mexer, e os desafios ambientais não vão desaparecer sozinhos, A única maneira de abordar efetivamente problemas como mudança climática ou migração em massa ou doenças pandêmicas será desenvolver sistemas para mais cooperação internacional, não menos.

Nós temos uma história melhor para contar. Mas dizer que nossa visão para o futuro é melhor não é dizer que ela irá inevitavelmente vencer. Porque a história também mostra o poder do medo. A história mostra o domínio duradouro da ganância e o desejo de dominar os outros nas mentes dos homens. Especialmente homens. (Laughter and History mostra com que facilidade as pessoas podem ser convencidas a ligar os que parecem diferentes ou a adorar a Deus de uma maneira diferente.

Então, se formos verdadeiramente continuar a longa caminhada de Madiba em direção à liberdade, teremos que trabalhar mais e teremos que ser mais inteligentes. Nós vamos ter que aprender com os erros do passado recente. E assim, no breve tempo restante, deixe-me sugerir apenas algumas diretrizes para o caminho a seguir, diretrizes que tiram do trabalho de Madiba, suas palavras, as lições de sua vida.

Primeiro, Madiba mostra aqueles de nós que acreditam na liberdade e na democracia que teremos que lutar mais para reduzir a desigualdade e promover oportunidades econômicas duradouras para todas as pessoas.

Agora, não acredito no determinismo econômico. Os seres humanos não vivem só de pão. Mas eles precisam de pão. E a história mostra que as sociedades que toleram grandes diferenças de riqueza alimentam ressentimentos e reduzem a solidariedade e, na verdade, crescem mais lentamente; e que, uma vez que as pessoas alcancem mais do que mera subsistência, elas estão medindo seu bem-estar comparando-se com seus vizinhos e se seus filhos podem esperar viver uma vida melhor.

E quando o poder econômico está concentrado nas mãos de poucos, a história também mostra que o poder político certamente se seguirá – e essa dinâmica corrói a democracia. Às vezes pode ser uma corrupção direta, mas às vezes pode não envolver a troca de dinheiro; é só gente que é tão rica que consegue o que quer, e isso prejudica a liberdade humana.

E Madiba entendeu isso. Isso não é novidade. Ele nos alertou sobre isso. Ele disse: “Onde a globalização significa, como tantas vezes acontece, que os ricos e os poderosos agora têm novos meios para enriquecer e fortalecer a si mesmos à custa dos mais pobres e mais fracos, [então] temos a responsabilidade de protestar em o nome da liberdade universal ”. Foi o que ele disse.

Então, se estamos falando sério sobre a liberdade universal hoje, se nos preocupamos com a justiça social hoje, então temos a responsabilidade de fazer algo a respeito. E eu respeitosamente emendaria o que Madiba disse. Eu não faço isso com frequência, mas eu diria que não é o suficiente para protestarmos; vamos ter que construir, vamos ter que inovar, vamos ter que descobrir como podemos fechar esse abismo crescente de riqueza e oportunidade, tanto dentro dos países como entre eles.

E como conseguimos isso vai variar de país para país, e sei que seu novo presidente está empenhado em arregaçar as mangas e tentar fazê-lo. Mas podemos aprender com os últimos 70 anos que isso não envolverá capitalismo desregulado, desenfreado e antiético. Também não envolverá o socialismo de comando e controle de estilo antigo no topo. Isso foi tentado; Não funcionou muito bem. Para quase todos os países, o progresso dependerá de um sistema de mercado inclusivo – que ofereça educação para todas as crianças; que protege a negociação coletiva e assegure os direitos de todos os trabalhadores – que destrói monopólios para encorajar a concorrência em pequenas e médias empresas; e possui leis que erradicam a corrupção e garantem negociações justas nos negócios;

Eu devo acrescentar, a propósito, agora estou realmente surpreso com quanto dinheiro eu tenho, e deixe-me dizer uma coisa: eu não tenho metade da maioria dessas pessoas ou de um décimo ou centésimo. . Há tanta coisa que você pode comer. Há apenas uma casa tão grande que você pode ter. Há apenas tantas viagens agradáveis ​​que você pode fazer. Quero dizer, é o suficiente. Você não tem que fazer um voto de pobreza apenas para dizer: “Bem, deixe-me ajudar e deixar algumas das outras pessoas – deixe-me olhar para aquela criança lá fora que não tem o suficiente para comer ou precisa de algum taxas escolares, deixe-me ajudá-lo. Eu vou pagar um pouco mais em impostos. Está bem. Eu posso pagar isso.”

Quero dizer, isso mostra uma pobreza de ambição de apenas querer tomar mais e mais e mais, em vez de dizer: “Uau, eu tenho muito. Quem posso ajudar? Como posso dar mais e mais e mais? ”Isso é ambição. Isso é impacto. Isso é influência. Que presente incrível para ajudar as pessoas, não apenas você. Onde eu estava? Eu improvisei. Você entendeu.

Envolve promover um capitalismo inclusivo tanto dentro das nações como entre as nações. E, como perseguimos, por exemplo, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, temos que superar a mentalidade de caridade. Temos que trazer mais recursos para os bolsos esquecidos do mundo através do investimento e do empreendedorismo, porque há talento em todo o mundo se for dada uma oportunidade.

Quando se trata do sistema internacional de comércio e comércio, é legítimo que os países mais pobres continuem a buscar acesso aos mercados mais ricos. E, a propósito, mercados mais ricos, esse não é o grande problema que você está tendo – que um pequeno país africano está enviando chá e flores para você. Esse não é o seu maior desafio econômico. Também é apropriado para as economias avançadas, como os Estados Unidos, insistir na reciprocidade de países como a China, que não são mais apenas países pobres, para garantir o acesso aos seus mercados e deixar de tomar propriedade intelectual e hackear nossos servidores.

Mas mesmo que haja discussões em torno do comércio e do comércio, é importante reconhecer essa realidade: enquanto a terceirização de empregos de norte a sul, de leste a oeste, enquanto muito disso era uma tendência dominante no final do século XX. , o maior desafio para os trabalhadores em países como o meu hoje é a tecnologia.

E o maior desafio para o seu novo presidente quando pensarmos em empregar mais pessoas aqui também será a tecnologia, porque a inteligência artificial está aqui e está acelerando, e você terá carros sem motorista, e você terá mais e mais serviços automatizados, e isso dará ao trabalho de dar a todos um trabalho mais significativo, e teremos que ser mais imaginativos, e o pacto de mudança vai nos exigir fazer uma re-imaginação mais fundamental de nossos arranjos sociais e políticos, para proteger a segurança econômica e a dignidade que vem com um trabalho. Não é apenas dinheiro que um emprego oferece; fornece dignidade e estrutura, senso de lugar e senso de propósito.

Assim, teremos que considerar novas maneiras de pensar sobre esses problemas, como uma renda universal, uma revisão de nossa jornada de trabalho, como treinamos nossos jovens, como fazemos de todos um empreendedor em algum nível. Mas vamos ter que nos preocupar com economia se quisermos colocar a democracia de volta nos trilhos.

Segundo, Madiba nos ensina que alguns princípios são realmente universais – e o mais importante é o princípio de que estamos unidos por uma humanidade comum e que cada indivíduo tem dignidade e valor inerentes.

Agora, é surpreendente que tenhamos que afirmar esta verdade hoje. Mais de um quarto de século depois que Madiba saiu da prisão, eu ainda tenho que ficar aqui em uma palestra e dedicar algum tempo para dizer que negros e brancos e asiáticos e latino-americanos e mulheres e homens e gays e heterossexuais, isso somos todos humanos, que nossas diferenças são superficiais e que devemos tratar uns aos outros com cuidado e respeito. Eu teria pensado que teríamos descoberto isso agora. Eu achava que essa noção básica estava bem estabelecida. Mas acontece que, como vemos nessa recente tendência à política reacionária, a luta pela justiça básica nunca está realmente terminada. Então temos que estar constantemente atentos e lutar por pessoas que buscam se elevar colocando alguém abaixo.

E, a propósito, também temos que resistir ativamente – isso é importante, particularmente em alguns países da África, como a pátria de meu pai; Já fiz isso antes – temos que resistir à noção de que os direitos humanos básicos, como a liberdade de discordância, ou o direito das mulheres de participar plenamente da sociedade, ou o direito das minorias à igualdade de tratamento, ou os direitos das pessoas não para sermos espancados e presos por causa de sua orientação sexual – temos que ter cuidado para não dizer que de alguma forma, bem, isso não se aplica a nós, que essas são idéias ocidentais, e não imperativos universais.

Mais uma vez, Madiba, ele antecipou as coisas. Ele sabia do que estava falando. Em 1964, antes de receber a sentença que o condenou a morrer na prisão, ele explicou do banco dos réus que, “A Carta Magna, a Petição de Direitos, a Declaração de Direitos são documentos que são mantidos em veneração por democratas em todo o mundo. Em outras palavras, ele não disse bem, esses livros não foram escritos por sul-africanos, então eu simplesmente não posso reivindicá-los. Não, ele disse que é parte da minha herança.

Isso é parte da herança humana. Isso se aplica aqui neste país, para mim e para você. E isso é parte do que lhe deu a autoridade moral que o regime do apartheid nunca poderia reivindicar, porque estava mais familiarizado com seus melhores valores do que eles. Ele lera seus documentos com mais cuidado do que eles. E ele prosseguiu dizendo: “A divisão política baseada na cor é inteiramente artificial e, quando desaparece, a dominação de um grupo de cores por outro também.” Isso é Nelson Mandela falando em 1964, quando eu tinha três anos de idade.

O que era verdade, então, permanece verdadeiro hoje. Verdades básicas não mudam. É uma verdade que pode ser adotada pelos ingleses e pelos indianos e pelos mexicanos e bantos e pelos luo e pelos americanos. É uma verdade que está no coração de toda religião mundial – que devemos fazer aos outros como gostaríamos que fizessem a nós. Que nos vemos em outras pessoas. Que podemos reconhecer esperanças comuns e sonhos comuns. E é uma verdade que é incompatível com qualquer forma de discriminação baseada em raça ou religião ou gênero ou orientação sexual. E é uma verdade que, a propósito, quando abraçada, realmente proporciona benefícios práticos, uma vez que garante que uma sociedade possa aproveitar os talentos, a energia e a habilidade de todas as pessoas. E se você duvida, basta perguntar ao time de futebol francês que acabou de ganhar a Copa do Mundo. Porque nem todas essas pessoas – nem todas essas pessoas se parecem com gauleses para mim. Mas eles são franceses. Eles são franceses.

Abraçando nossa humanidade comum não significa que tenhamos que abandonar nossas identidades étnicas, nacionais e religiosas. Madiba nunca deixou de se orgulhar de sua herança tribal. Ele não deixou de se orgulhar de ser negro e de ser sul-africano.

Mas ele acreditava, como eu acredito, que você pode se orgulhar de sua herança sem denegrir os de uma herança diferente. Na verdade, você desonra sua herança. Isso me faria pensar que você é um pouco inseguro sobre sua herança se tiver que colocar a herança de outra pessoa para baixo. Sim, está certo. Você não sente que às vezes – mais uma vez, eu estou improvisando aqui – que essas pessoas que estão tão concentradas em colocar as pessoas para baixo e se embotando que elas são de coração pequeno, que há algo que elas estão com medo do.

Madiba sabia que não podemos reivindicar justiça para nós mesmos quando isso é reservado apenas para alguns. Madiba entendeu que não podemos dizer que temos uma sociedade justa simplesmente porque substituímos a cor da pessoa em cima de um sistema injusto, então a pessoa se parece conosco mesmo que esteja fazendo a mesma coisa, e de alguma forma agora nós temos justiça. Isso não funciona. Não é justiça se agora você estiver no topo, então vou fazer a mesma coisa que aquelas pessoas estavam fazendo comigo e agora vou fazer isso com você. Isso não é justiça. “Eu detesto o racismo”, disse ele, “se vem de um homem negro ou de um homem branco”.

Agora, temos que reconhecer que há desorientação que vem da rápida mudança e modernização, e o fato de que o mundo encolheu, e vamos ter que encontrar maneiras de diminuir os medos daqueles que se sentem ameaçados. No debate atual do Ocidente em torno da imigração, por exemplo, não é errado insistir que as fronteiras nacionais importam; se você é um cidadão ou não vai importar para um governo, que as leis precisam ser seguidas; que, no âmbito público, os recém-chegados devem se esforçar para adaptar-se à linguagem e aos costumes de seu novo lar. Essas são coisas legítimas e temos que ser capazes de envolver as pessoas que se sentem como se as coisas não estivessem em ordem. Mas isso não pode ser uma desculpa para políticas de imigração baseadas em raça, etnia ou religião. Tem que haver alguma consistência. E podemos impor a lei respeitando a humanidade essencial daqueles que estão lutando por uma vida melhor. Para uma mãe com um filho nos braços, podemos reconhecer que poderia ser alguém da nossa família, que poderia ser meu filho.

Em terceiro lugar, Madiba nos lembra que a democracia é mais do que apenas eleições.

Quando ele foi libertado da prisão, a popularidade de Madiba – bem, você não podia nem medir isso. Ele poderia ter sido presidente vitalício. Estou errado? Quem iria correr contra ele? Quero dizer, Ramaphosa era popular, mas vamos lá. Além disso, ele era jovem – ele era jovem demais. Se ele tivesse escolhido, Madiba poderia ter governado por decreto executivo, sem restrição de contrapesos. Mas, em vez disso, ajudou a guiar a África do Sul através da elaboração de uma nova Constituição, baseada em todas as práticas institucionais e ideais democráticos que se mostraram mais robustos, atentos ao fato de que nenhum indivíduo possui o monopólio da sabedoria.

Nenhum indivíduo – nem Mandela, nem Obama – é totalmente imune às influências corruptoras do poder absoluto, se você puder fazer o que quiser e todo mundo tem medo de dizer quando você cometer um erro. Ninguém está imune aos perigos disso.

Mandela entendeu isso. Ele disse: “A democracia é baseada no princípio da maioria. Isso é especialmente verdadeiro em um país como o nosso, onde a grande maioria tem sistematicamente negado seus direitos. Ao mesmo tempo, a democracia também exige que os direitos das minorias políticas e outras sejam salvaguardados ”. Ele entendeu que não é apenas sobre quem tem mais votos. É também sobre a cultura cívica que construímos que faz a democracia funcionar.

Então temos que parar de fingir que os países que apenas realizam uma eleição onde às vezes o vencedor magicamente obtém 90% dos votos porque toda a oposição está trancada – ou não podem entrar na TV, é uma democracia. A democracia depende de instituições fortes e é sobre os direitos das minorias e freios e contrapesos, e liberdade de expressão e liberdade de expressão e imprensa livre, e o direito de protestar e peticionar o governo, e um judiciário independente, e todos têm que seguir a lei .

E sim, a democracia pode ser confusa, e pode ser lenta, e pode ser frustrante. Eu sei, eu prometo. Mas a eficiência oferecida por um autocrata é uma promessa falsa. Não o leve, porque leva, invariavelmente, a uma maior consolidação da riqueza no topo e ao poder no topo, e torna mais fácil esconder a corrupção e o abuso. Apesar de todas as suas imperfeições, a democracia real sustenta melhor a ideia de que o governo existe para servir o indivíduo e não o contrário. E é a única forma de governo que tem a possibilidade de tornar essa ideia real.

Então, para aqueles de nós que estão interessados ​​em fortalecer a democracia, paremos também – é hora de pararmos de prestar atenção às capitais mundiais e aos centros de poder e começar a nos concentrar mais nas bases, porque é aí que a legitimidade democrática vem de. Não de cima para baixo, não de teorias abstratas, não apenas de especialistas, mas de baixo para cima. Conhecer as vidas daqueles que estão lutando.

Como organizadora da comunidade, aprendi muito com um trabalhador de aço desempregado em Chicago ou com uma mãe solteira em um bairro pobre que visitei, como aprendi com os melhores economistas do Salão Oval. Democracia significa estar em contato e em sintonia com a vida como é vivida em nossas comunidades, e isso é o que devemos esperar de nossos líderes, e depende do cultivo de líderes na base que podem ajudar a trazer mudanças e implementá-las no terreno e podem diga aos líderes em edifícios extravagantes, isso não está funcionando aqui.

E para fazer a democracia funcionar, Madiba nos mostra que também temos que continuar ensinando nossos filhos, e a nós mesmos – e isso é realmente difícil – a nos engajar com pessoas que não apenas têm uma aparência diferente, mas possuem visões diferentes. Isto é difícil.

A maioria de nós prefere nos cercar de opiniões que validem o que já acreditamos. Você percebe que as pessoas que você acha inteligentes são as pessoas que concordam com você. Engraçado como isso funciona. Mas a democracia exige que também possamos entrar na realidade das pessoas que são diferentes de nós para que possamos entender seu ponto de vista. Talvez possamos mudar de idéia, mas talvez eles mudem os nossos. E você não pode fazer isso se você simplesmente ignorar o que seus oponentes têm a dizer desde o início. E você não pode fazer isso se você insiste que aqueles que não são como você – porque são brancos, ou porque são do sexo masculino – que de alguma forma não há como eles entenderem o que eu sinto, que de alguma forma eles não têm de pé para falar sobre certos assuntos.

Madiba, ele viveu essa complexidade. Na prisão, ele estudou afrikaans para poder entender melhor as pessoas que o estavam encarcerando. E quando ele saiu da prisão, ele estendeu a mão para aqueles que o haviam prendido, porque ele sabia que eles tinham que ser parte da África do Sul democrática que ele queria construir. “Para fazer as pazes com um inimigo”, escreveu ele, “é preciso trabalhar com esse inimigo e esse inimigo torna-se parceiro de alguém”.

Assim, aqueles que traficam em absolutos quando se trata de política, seja à esquerda ou à direita, tornam a democracia inviável. Você não pode esperar obter 100% do que você quer o tempo todo; às vezes, você tem que comprometer. Isso não significa abandonar seus princípios, mas significa manter esses princípios e ter a confiança de que eles resistirão a um debate democrático sério. Foi assim que os Fundadores da América planejaram que nosso sistema funcionasse – que, através do teste de idéias e da aplicação da razão e da prova, seria possível chegar a uma base para um terreno comum.

E devo acrescentar que isso funcione, temos que realmente acreditar em uma realidade objetiva. Essa é outra dessas coisas que eu não tive que fazer palestras. Você tem que acreditar em fatos. Sem fatos, não há base para cooperação. Se eu disser que este é um pódio e você diz que isso é um elefante, vai ser difícil para nós cooperarmos. Eu posso encontrar um terreno comum para aqueles que se opõem aos Acordos de Paris porque, por exemplo, eles podem dizer, bem, não vai funcionar, você não pode fazer com que todos cooperem, ou eles podem dizer que é mais importante para nós fornecermos produtos baratos. energia para os pobres, mesmo que isso signifique, a curto prazo, que haja mais poluição.

Pelo menos eu posso ter um debate com eles sobre isso e posso mostrar a eles porque eu acho que a energia limpa é o melhor caminho, especialmente para os países pobres, que você pode ultrapassar tecnologias antigas. Não consigo encontrar um terreno comum se alguém diz que a mudança climática não está acontecendo, quando quase todos os cientistas do mundo nos dizem que é. Eu não sei por onde começar a falar sobre isso. Se você começar a dizer que é uma farsa elaborada, eu não sei o que fazer – onde começamos?

Infelizmente, muita da política hoje parece rejeitar o próprio conceito de verdade objetiva. As pessoas inventam coisas. Eles apenas inventam coisas. Nós vemos isso na propaganda patrocinada pelo estado; vemos isso em fabricações conduzidas pela Internet, vemos isso na confusão de linhas entre notícias e entretenimento, vemos a total perda de vergonha entre os líderes políticos, onde eles são pegos em uma mentira e eles simplesmente dobram e mentem um pouco mais. Políticos sempre mentiram, mas costumava ser, se você os pegasse mentindo, seria tipo “Oh, cara”. Agora eles continuam mentindo.

Aliás, isso é o que eu acho que Mama Graça estava falando em termos de algum senso de humildade que Madiba sentia, como às vezes coisas básicas, eu não mentir para as pessoas parece básico, eu não penso em mim como um grande líder só porque eu não invisto completamente. Você acha que foi uma linha de base. De qualquer forma, vemos isso na promoção do anti-intelectualismo e na rejeição da ciência por parte de líderes que acham o pensamento crítico e os dados de alguma forma politicamente inconvenientes.

E, como na negação de direitos, a negação de fatos vai contra a democracia, pode ser a sua ruína, e é por isso que devemos proteger zelosamente a mídia independente; e temos que nos proteger contra a tendência das mídias sociais se tornarem puramente uma plataforma para espetáculo, indignação ou desinformação; e temos que insistir que nossas escolas ensinem o pensamento crítico aos nossos jovens, não apenas a obediência cega.

O que, tenho certeza de que você é grato, leva ao meu último ponto: temos que seguir o exemplo de persistência e esperança de Madiba.

É tentador ceder ao cinismo: acreditar que as mudanças recentes na política global são muito poderosas para retroceder; que o pêndulo oscilou permanentemente. Assim como as pessoas falaram sobre o triunfo da democracia nos anos 90, agora vocês estão ouvindo as pessoas falarem sobre o fim da democracia e o triunfo do tribalismo e do homem forte. Temos que resistir a esse cinismo.

Porque, nós passamos por tempos mais escuros, nós estivemos em vales mais baixos e vales mais profundos. Sim, até o final de sua vida, Madiba incorporou a luta bem-sucedida pelos direitos humanos, mas a jornada não foi fácil, não foi pré-ordenada. O homem foi preso por quase três décadas. Ele dividiu o calcário no calor, dormiu em uma pequena cela e foi repetidamente colocado em confinamento solitário. E eu lembro de ter conversado com alguns de seus ex-colegas dizendo como eles não tinham percebido quando foram libertados, apenas a visão de uma criança, a ideia de segurar uma criança, eles haviam perdido – não era algo disponível para eles, por décadas.

E, no entanto, seu poder realmente cresceu durante aqueles anos – e o poder de seus carcereiros diminuiu, porque ele sabia que se você mantivesse o que é verdade, se você sabe o que está em seu coração, e você está disposto a se sacrificar por isso, mesmo no face de chances esmagadoras, de que isso pode não acontecer amanhã, pode não acontecer na próxima semana, pode nem acontecer em sua vida.

As coisas podem retroceder por um tempo, mas no final das contas, certo faz poder, e não o contrário, a história melhor pode vencer e tão forte quanto o espírito de Madiba pode ter sido, ele não teria sustentado essa esperança se estivesse sozinho na luta, parte da motivação era que ele soubesse que a cada ano, as fileiras de combatentes da liberdade estavam se reabastecendo, homens e mulheres jovens, aqui na África do Sul, no ANC e além; negros, indianos e brancos, do outro lado do campo, por todo o continente, em todo o mundo, que naqueles dias mais difíceis continuariam trabalhando em prol de sua visão.

E é disso que precisamos agora, não precisamos apenas de um líder, não precisamos apenas de uma inspiração, o que precisamos agora é desse espírito coletivo. E eu sei que aqueles jovens, aqueles portadores de esperança estão se reunindo ao redor do mundo. Porque a história mostra que sempre que o progresso é ameaçado, e as coisas que mais nos interessam estão em questão, devemos ouvir as palavras de Robert Kennedy – falado aqui na África do Sul, ele disse: “Nossa resposta é a esperança do mundo: é confiar na juventude. É confiar no espírito dos jovens ”.

Então, os jovens, que estão na platéia, que estão ouvindo, minha mensagem para você é simples, continue acreditando, continue marchando, continue construindo, continue levantando sua voz. Toda geração tem a oportunidade de refazer o mundo. Mandela disse: “Os jovens são capazes, quando despertados, de derrubar as torres da opressão e levantar as bandeiras da liberdade”. Agora é um bom momento para ser despertado. Agora é um bom momento para se animar.

E, para aqueles de nós que se preocupam com o legado que nós honramos aqui hoje – sobre igualdade e dignidade e democracia e solidariedade e bondade, aqueles de nós que permanecem jovens no coração, se não no corpo – temos a obrigação de ajudar nossos jovens ter sucesso. Alguns de vocês sabem, aqui na África do Sul, minha Fundação está convocando nos últimos dias, duzentos jovens de todo o continente que estão fazendo o trabalho duro de fazer mudanças em suas comunidades; que refletem os valores de Madiba, que estão preparados para liderar o caminho.

Pessoas como Abaas Mpindi, um jornalista de Uganda, que fundou a Media Challenge Initiative, para ajudar outros jovens a obter o treinamento necessário para contar as histórias que o mundo precisa saber.

Pessoas como Caren Wakoli, uma empreendedora do Quênia, que fundou a Emerging Leaders Foundation para envolver os jovens no trabalho de combater a pobreza e promover a dignidade humana.

Pessoas como Enock Nkulanga, que dirige a missão African Children, que ajuda crianças em Uganda e no Quênia a obterem a educação de que precisam e, em seu tempo livre, defende os direitos das crianças em todo o mundo e fundou uma organização chamada LeadMinds Africa. , que faz exatamente o que diz.

Você conhece essas pessoas, fala com elas, elas lhe dão esperança. Eles estão tomando o bastão, eles sabem que não podem simplesmente descansar sobre as realizações do passado, até mesmo as realizações daqueles tão importantes quanto os de Nelson Mandela. Eles ficam sobre os ombros daqueles que vieram antes, incluindo aquele jovem negro nascido há 100 anos, mas eles sabem que agora é a vez deles fazerem o trabalho.

Madiba nos lembra que: “Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, de sua origem ou de sua religião. As pessoas devem aprender a odiar, e se elas podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar, pois o amor vem mais naturalmente ao coração humano. ”O amor vem mais naturalmente ao coração humano, vamos nos lembrar dessa verdade. Vamos ver isso como nossa Estrela do Norte, vamos nos alegrar em nossa luta para fazer essa verdade se manifestar aqui na terra para que daqui a 100 anos, futuras gerações olhem para trás e digam, “eles mantiveram a marcha, é por isso que vivemos sob novos banners de liberdade ”.

Muito obrigado, África do Sul, obrigado.

https://mg.co.za/article/2018-07-18-read-in-full-the-barack-obama-2018-nelson-mandela-lecture

Obama apela aos quenianos para se empenharem na realização de eleições “pacificas e credíveis”

 

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Washington – O ex-presidente norte-americano, Barack Obama, instou todos os quenianos a empenharem-se em eleições “pacíficas e credíveis” no Quénia, num escrutínio fundamental para o país leste africano, terra natal do seu pai, noticiou a Reuters.

 

“Apelo aos dirigentes quenianos a rejeitarem a violência e respeitarem a vontade do povo”, escreveu segunda-feira Obama, há algumas horas do início do escrutínio que opõe o presidente Uhuru Kenyatta a Raila Odinga, candidato já três vezes derrotado.

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O antigo chefe de Estado democrata, que deixou o poder em Janeiro deste ano, apelou ainda “a todos os quenianos para que se comprometam em eleições pacíficas e credíveis, para reforçar a confiança na nova Constituição e no futuro do país”.

Quase 20 milhões de quenianos são chamados nesta terça-feira às urnas para escolher o seu presidente, os governadores, deputados, senadores e representantes locais.Kenya-Obama-GSF2A7QD4.1

Estas eleições realizam-se dez anos após a onda de violência políitico-étnica de 2007-2008 que deixou mais de mil mortos e mais de 600 mil deslocados.

Sublinhando que os quenianos conhecem melhor que ninguém “os sofrimentos inúteis” suportados aquando da crise de 2007, Obama instou-os a desenvolver o país a partir dos progressos dos últimos anos “em vez de os colocarem em perigo”.

“O conjunto dos quenianos perderá se o país mergulhar na violência. Durante as três décadas que passaram desde a minha primeira visita ao Quénia, em 1987, fui testemunha dos vossos progressos notáveis”, repetiu, para sublinhar a que ponto as eleições desta terça-feira constituem “uma etapa fundamental” que não pode ser desperdiçada.

“Enquanto amigo do povo queniano, exorto-vos a trabalharem para um futuro que não seja sob o signo do medo e da divisão, mas sob o da unidade e da esperança”, concluiu.

Presidente português reconhece injustiça da escravatura em visita a Gorée – Senegal

 

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O Presidente português considerou na quinta-feira, no Senegal, que o poder político reconheceu a injustiça da escravatura quando a aboliu em parte do seu território, “pela mão do Marquês de Pombal, em 1761”.

 

Marcelo Rebelo de Sousa deixou esta mensagem no final de uma visita a uma antiga casa de escravos do tempo dos holandeses, na ilha de Gorée, ou Goreia, em frente a Dacar, capital do Senegal, lugar que foi um entreposto do tráfico desde o século XVI, sob domínio português, até ao século XIX, e onde o Papa João Paulo II pediu perdão pela escravatura.maison des esclaves.jpg
Marcelo Rebelo de Sousa iniciou na terça-feira uma visita de Estado de dois dias ao Senegal, a primeira de um Presidente português a este país da África Ocidental, antiga colónia francesa, que se tornou independente em 1960.
Ao falar primeiro em francês, o Chefe de Estado português declarou que “quando nós abolimos a escravatura em Portugal, pela mão do Marquês de Pombal, em 1761 – e depois alargámos essa abolição mais tarde, no século XIX, demasiado tarde -, essa decisão do poder político português foi um reconhecimento da dignidade do homem, do respeito por um estatuto correspondente a essa dignidade”.
“Nessa medida, nós reconhecemos também o que havia de injusto e de sacrifício nos direitos humanos, como diríamos hoje em dia, numa situação que foi abolida”, acrescentou o estadista.

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Depois, Marcelo Rebelo de Sousa repetiu a mensagem em português: “Recordei que Portugal aboliu, pela mão do Marquês de Pombal, pela primeira vez, a escravatura, numa parte do seu território em 1761 – embora só alargasse essa abolição definitivamente no século XIX -, e que nesse momento, ao abolir, aderiu a um ideal humanista que estava virado para o futuro”.
Essa decisão reconhecia o que tinha havido de injusto, o que tinha havido de condenável no comportamento anterior, relativamente a séculos em que esses direitos não foram devidamente reconhecidos, reiterou o Presidente.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o que fica de mais importante desta visita à “Casa dos Escravos” de Gorée é “a lição de esperança num futuro melhor” e a ideia de que “é preciso continuar a lutar pelos direitos humanos, contra as formas de escravatura que existem, contra as opressões, contra as ditaduras, contra os totalitarismos”. “Ainda hoje, infelizmente, é tão necessário”, lamentou o Chefe de Estado de Portugal. No segundo dia em Dacar, o Chefe de Estado português foi também à Casa-Museu Léopold Senghor, primeiro Presidente do Senegal, e participou num debate com professores e alunos de língua portuguesa.

Integração na CPLP

O Presidente português considerou que o Senegal “fala português” e tem “uma porta aberta” para assumir “um papel essencial” na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da qual já é membro observador. Em declarações aos jornalistas na ilha de Gorée, Marcelo Rebelo de Sousa disse que é impressionante a presença da língua portuguesa neste país, que tem 46 mil jovens a falar português. O Senegal fica próximo de dois países lusófonos. As ilhas de Cabo Verde estão em frente à sua costa, a cerca de 600 quilómetros, e faz fronteira com a Guiné-Bissau a sul, aproximando-se de Portugal também pela sua importância regional e pela língua portuguesa, que ali é estudada por milhares de alunos. Desde 2008, tem estatuto de observador da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A comunidade portuguesa ronda as 200 pessoas, embora apenas cerca de 50 estejam registadas nos serviços consulares. A ilha de Gorée é um património da Humanidade classificado pelo Fundo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 1978 e representa um memorial da escravatura. De Gorée, foram embarcados escravos de África para as Américas até ao século XIX e a ilha mantém como memória e símbolo desse passado uma “Casa dos Escravos”, do tempo dos holandeses, ligada ao mar por uma “Porta do Não Retorno”.
Foi nesta ilha, a menos de 20 minutos de barco da capital do Senegal, que o Papa João Paulo II pediu perdão pela escravatura em 1992, quando afirmou: “A partir deste santuário africano do sofrimento negro, imploramos o perdão do céu.”
Em 2005, dias depois da morte do Papa João Paulo II, o então Presidente do Brasil, Lula da Silva, visitou Gorée e repetiu esse gesto. Embora referindo que não tinha “nenhuma responsabilidade com o que aconteceu” no período da escravatura, declarou “Perdão pelo que fizemos aos negros”.
Os navegadores portugueses foram os primeiros a chegar a esta ilha, em 1444, num feito atribuído a Dinis Dias, e deram-lhe o nome de Ilha da Palma. Depois, no período filipino, foi tomada pelos holandeses e posteriormente pelos franceses, pelos ingleses e novamente pelos franceses.
Além de João Paulo II e de Lula da Silva outras personalidades mundiais visitaram a histórica ilha de Gorée. O então primeiro-ministro francês, Michel Rocard, visitou a região em 1981. Também três Presidentes norte-americanos, Bill Clinton em 1998, George W. Bush em 2008 e Barack Hussein Obama em 2013 visitaram a ilha senegalesa e aí assumiram o “mea culpa” dos respectivos Estados na escravatura. Estima-se que pelo menos 12 milhões de escravos africanos tenham sido capturados e retirados do continente, ao longo do triste período do comércio negreiro.

http://jornaldeangola.sapo.ao/mundo/portugal_reconhece_injustica_da_escravatura

Luta contra o racismo viveu dias gloriosos sob Obama, por Janio de Freitas

Jornal GGN – O maior feito de Barack Obama na Casa Branca foi justamente ser um presidente negro em um país tão racista quanto os Estados Unidos. A opinião é de Janio de Freitas, em sua coluna de hoje (19) na Folha de S. Paulo.
O articulista pontua que a “decência cativante” fez com que se esperasse mais do que ele fez, ressaltando que Obama deixa forte presença militar no mundo, além da autorização do uso de drones.
Janio também diz que Obama combateu o racismo com “naturalidade”, e deixa como legado especial Michelle Obama, “potencial presidente dos Estados Unidos”.
por Janio de Freitas
Impor um presidente negro a um país ainda hoje tão racista como são os Estados Unidos – este o maior feito de Barack Obama.
Impor-se ao respeito inabalado de todo esse país durante os oito anos na presidência – este o segundo maior feito de Barack Obama. O revertério que leva um primata patético a sucedê-lo sugere a dimensão gigantesca daqueles feitos.
O primeiro êxito e a decência cativante de Obama fizeram esperar-se dele mais do que fez. Ou, no mínimo, o principal dos seus compromissos de candidato: a retirada americana das áreas de guerra, a redução da presença militar dos EUA no mundo, o fim do crime imoral que é a prisão de Guantánamo, apesar de sem importância na opinião dos americanos, mas humilhante para o mundo que, acovardado, o testemunha.
Obama não apenas deixa forte presença militar no mundo, por muitos dita maior do que a encontrada. Foi da sua presidência a autorização para uso da nova arma que são os pequenos aviões não tripulados, ou drones, transformados em objetos assassinos.
Chefes ou suspeitos de ação anti-americana são assassinados do ar em países sem guerra com os EUA. O colar de bases americanos em torno da então URSS, que fez os soviéticos instalarem foguetes em Cuba para barganhá-los pela retirada das bases, ganhou com Obama nova versão. Os EUA montam, na Ásia e na Oceania, um arco de bases e arsenais em volta da China. Com Obama, as ânsias beligerantes dos EUA ficaram apenas menos ostensivas e mais educadas, sem troca de desaforos.
Do mesmo lote de compromissos principais do candidato, Obama fez três grandes realizações. Duas notórias: a economia em colapso foi oxigenada, com efeitos sociais ainda em progressão; e a persistente batalha que conseguiu vergar o Congresso para implantar um sistema público de saúde, o Obamacare já sob as picaretas dos republicanos.
A terceira foi a ação contra o racismo. Antecessor de Kennedy, o general Eisenhower usou contra o racismo agressivo a Guarda Nacional. Kennedy, como em quase tudo, dividiu-se entre a força e a demagogia.
Obama teve a inteligência e a originalidade de usar uma das armas mais raras entre os ditos civilizados: a naturalidade. Assim como para eleger-se não fez do racismo um tema de combate, na Casa Branca dirigiu-lhe poucas palavras: enfrentou-o com o seu dia a dia, com sua cara. Com a simbiose Barack-Michelle. Conscientizada ou não, a evidência penetrou fundo no país: nenhuma diferença entre brancos e negros.
O racismo não se extinguiu, talvez nem tenha se retraído em porção significativa, a Ku Klux Klan é sempre uma das bandeiras nacionais. Mas o antirracismo viveu dias gloriosos, para um futuro em que será difícil retrocedê-lo.
Mas um legado especial Barack Obama leva amanhã consigo: Michelle Obama, imagem consagrada, oradora brilhante, opinião e firmeza, potencial presidente dos Estados Unidos.

Obama inaugura museu de história afro-americana em Washington

 

Museu Afro-americano inaugurado neste sábado (24) em Washington (Foto: Pablo Martinez Monsivais / AP)

 

 

O presidente Barack Obama inaugurou neste sábado o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, em Washington. Na cerimônia de inauguração, cortou a fita e inaugurou o museu de 37 mil metros quadrados revestido em bronze, diante de milhares de pessoas.

 

“Além da suntuosidade do edifício, o que torna esta ocasião tão especial é a rica história que ele abriga”, disse Obama durante a cerimônia, da qual participaram personalidades como o cantor Stevie Wonder e a apresentadora de TV Oprah Winfrey.

 

“A história afro-americana não está separada da nossa grande história americana. Não é a parte inferior da história americana. É parte central da história americana”, expressou.

 

 

Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama inaugura museu afro-americano em Washington (Foto: Zach Gibson / AFP)

 

 

O museu foi concebido originalmente em 1915, quando veteranos da guerra civil americana buscavam uma maneira de homenagear a experiência dos afro-americanos no conflito.

 

A construção foi finalmente aprovada numa lei assinada pelo ex-presidente George W. Bush em 2003. O prédio tem uma localização privilegiada, próxima à Casa Branca e ao Monumento de Washington, e abriga 34 mil objetos, tendo sido quase a metade deles doados.

 

Tensão racial

 

A inauguração acontece em um contexto de forte tensão racial, enquanto cresce a indignação no país diante da morte de negros por policiais. O caso mais recente gerou protestos em Charlotte, Carolina do Norte (sudeste).

 

Este é o primeiro museu nacional dedicado a documentar as verdades incômodas envolvendo a opressão sistemática sofrida pelos negros no país, ao mesmo tempo em que homenageia o papel da cultura afro-americana.

 

“Uma visão clara da história pode nos incomodar (…) mas é, precisamente, a partir deste incômodo que aprendemos e crescemos, e aproveitamos o poder coletivo para tornar esta nação perfeita”.

 

Eleito em meio a uma onda de otimismo, em 2008, Obama prometeu unificação, reiterando que não era presidente dos negros, e sim de todos os americanos. Mas seu mandato termina e as pesquisas mostram que a ampla maioria dos americanos vêem as relações inter-raciais como “em geral, ruins”.

 

Os tiroteios recentes em que negros foram mortos pelas polícias de Tulsa (Oklahoma, sudoeste) e Charlotte (Carolina do Norte, sudeste) voltaram a expor os problemas raciais do país.

 

 

Stevie Wonder se apresenta na inauguração do Museu Afro-Americano, em Washington (Foto: Yuri Gripas / Reuters)

 

 

“Mesmo diante de dificuldades inimagináveis, os Estados Unidos avançaram. E este museu contextualiza os debates do nosso tempo.”

 

“Talvez possa ajudar um visitante branco a compreender o sofrimento e a indignação dos manifestantes em lugares como Ferguson e Charlotte”, assinalou.

 

O museu mostra “que este país, nascido da mudança, este país, nascido de uma revolução, este país, nosso, do povo, este país pode ser melhor”, disse o presidente.

 

http://www.ariquemesonline.com.br/noticia.asp?cod=315156&codDep=24